quinta-feira, 11 de agosto de 2011

1 milhão em livros ficam encaixotados em Vila Velha

Livros encaixotados. O material custou R$ 1,1 milhão e, segundo os professores, não tem aplicação em sala de aula A Prefeitura de Vila Velha deixou encaixotados desde 2010 mais de 20 mil livros didáticos de Informática - coleção Microkids da editora Camargo, com sede no próprio município. O material custou R$ 1,1 milhão e, segundo os professores, não tem aplicação em sala de aula. Em algumas escolas, a coleção só começou a ser distribuída aos alunos há uma semana, após a nomeação da nova secretária do município, Wanessa Sechim, ocorrida no dia 6 de julho.
Além de secretária de Educação do município, Wanessa Sechim, foi diretora de Relações Institucionais da editora, conforme ela mesmo se apresentou numa página pessoal na internet (veja imagem abaixo). A assessora pedagógica da Secretaria de Educação, Tânia Maria Leone Marques, aparece como revisora do livro. Hoje, ela assessora o sub-secretário Emerson José Mayer.
Wanessa afirmou que prestou consultoria para a editora Camargo no período de três meses, de março até o dia 30 de junho deste ano. Já Tânia Leone disse que prestou serviço de revisão para editora até 2003 e não sabia que o nome dela ainda constava em edições posteriores do material. A edição dos livros comprados pela prefeitura é de 2007.

foto: Reprodução/Google

Vereador e secretário
A compra dos livros de informática  foi realizada pelo então secretário de Educação de Vila Velha, Heliosandro Mattos (PMN), que é vereador da cidade. Foi publicada no Diário Oficial do Estado no dia 25 de fevereiro de 2010, com referência ao contrato firmado em 2009. O Diário não especifica se houve licitação para a compra.
A Secretaria de Educação informou, em nota, que: "houve licitação por pregão eletrônico e nove empresas retiraram o edital demonstrando interesse na proposta. Porém, apenas a Editora Camargo compareceu na data e no horário do certame, cumprindo todos os requisitos exigidos pelo edital."
Professores
Uma carta  encaminhada à reportagem da Rádio CBN relata que a compra desse livro, à época, teria ocorrido contra a vontade do grupo de professores da formação continuada do município. Este grupo analisa o material didático do ensino municipal. Uma professora que fazia parte do grupo confirmou a informação. Ela destaca que os professores não foram consultados. Só souberam da compra depois dela ter sido realizada.

As explicações sobre a aquisição do material são contraditórias. De um lado, o então secretário Heliosandro Mattos afirma que a compra do livro no valor de R$ 1,195 milhão, conforme consta no Diário Oficial, atenderia todos os alunos da rede - aproximadamente 50 mil na época. Já a atual secretária diz que foram adquiridos 20.280 kits, cada um composto de um livro e um CD-ROM.
Heliosando diz ainda que a indicação do material partiu do prefeito Neucimar Fraga (PR), já que ele conhecia a metodologia da coleção através da secretária Wanessa Sechim, que ocupou o cargo de secretária de Educação de Nova Venécia, prefeitura que também adotou a coleção, segundo Heliossandro.
"Os livros seriam usados em 2010, entretanto, eu fui exonerado. A compra dos livros e a utilização desse material foi uma sugestão do prefeito Neucimar Fraga por ele ter uma boa informação sobre a coleção quando foi usada na gestão da atual secretária de Educação de Vila Velha na época em que ela ocupou o mesmo cargo em Nova Venécia. Ela é uma pessoa próxima a ele. A responsabilidade pela não aplicação desse material cabe aos gestores que me sucederam", explicou Heliosandro.
Faltam instrutores de informática
Wanessa Sechim afirma que não estava mais na Secretaria de Educação de Nova Venécia quando os livros foram comprados. A secretária explicou que a utilização dos livros da coleção Microkids faz parte de um projeto piloto que contemplará 25 das 91 escolas da rede de Vila Velha. Disse também que a implantação só não foi feita antes por problemas estruturais de algumas unidades e a falta de instrutores de informática.
"Tínhamos algumas dificuldades na estrutura da escola e na contratação de instrutores, mas já estamos acertando isso. Os kits foram distribuídos em 25 escolas da rede. Estamos com dificuldade de implantação em algumas escolas por causa da falta de instrutores de informática. Nosso processo seletivo para contratação desse profissional ainda não alcançou toda a demanda que precisamos", disse ela.

Levar para casa
Uma das escolas que já recebeu o livro, mas ainda não está o utilizando, é a Telmo Torres, localizada em Itapoã. Os alunos contaram que receberam o material na última segunda-feira (8) sob a orientação de levarem para casa e aguardarem a direção da unidade decidir o que será feito com eles.
"Eles entregaram e falaram que, por enquanto, nós não vamos usar, pois, eles estão resolvendo ainda o que fazer com os livros. Talvez seja porque a sala de informática tenha só 16 computadores e a turma tem mais de 30 alunos", contou um dos estudantes.
Em uma escola de Terra Vermelha, os livros ainda estavam nas caixas na última segunda-feira, segundo apurou nossa reportagem.
A secretária municipal afirma que os professores das unidades que vão trabalhar com o livro já foram capacitados. Fato não confirmado pelo Sindicato dos Professores de Vila Velha. A entidade informou que vários professores que receberam os livros alegaram não saber o que fazer com o material. Para a diretora do Sindiupes de Vila Velha, Fernanda Bermudes, não há como aplicar a metodologia desse livro no meio do ano letivo.
"Os professores reclamaram da quantidade de material e perguntaram do que tratava esses livros, de onde vieram e como seriam usados. Nós fomos em várias escolas e vimos um monte de caixas fechadas. Perguntávamos ao pedagogo, coordenador, diretor e ninguém sabia dizer porque aqueles livros estavam ali. Como o aluno vai utilizar um material entregue no mês de agosto sem nenhum professor estar preparado? O professor nem sabe desse livro", denuncia a diretora.
Apuração
Outro diretor do sindicato, Alexandre Carnielli, afirma que vai pedir novas informações à Secretaria de Educação sobre o contrato com a editora Camargo. A empresa tem sede no bairro Praia da Costa. Na ficha técnica do livro constam o nome de uma equipe de sete autores, cinco deles, com sobrenome Camargo.
O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça de Vila Velha, informou que tomou conhecimento da denúncia por meio da imprensa e vai abrir um procedimento investigatório para apurar os fatos. Da mesma forma, entende o MPES que, caso irregularidades se comprovem, serão tomadas todas as medidas legais cabíveis contra os que patrocinaram lesão aos cofres públicos.

Por: Gazeta Online

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